Não, eu não li o livro todo. Basicamente por vários motivos, que não vem ao caso agora. E sinceramente, não, eu não achei o livro mais brilhante que eu li. É interessante, me acrescenta em vários aspectos, mas não é muito o meu estilo. De maneira que ele não me prendeu até o final, mas me abriu os olhos.
Mas tem uma coisa nesse livro, por mais que eu não goste desse tipo de leitura que me chamou atenção: repare em um relato de uma pessoa olha para uma favela e que não mora dentro da favela, agora repare no relato de uma pessoa que olha a mesma favela e mora nela. Estranhamente, ou não, a favela em questão não será a mesma para as duas pessoas. E é justamente o ponto de vista de um morador de uma favela, que aparece no livro “Capão Pecado”.
O livro aparentemente fala da vida de um garoto normal que tenta ser direito e ter estudos, que acaba se apaixonando pela garota “errada” e acaba pagando o pato por isso. Aparentemente, só não é. O livro escrito por Ferrez vai muito além de relatar o amor proibido de dois jovens, ele abre um leque enorme de variedades culturais, ao mostrar o dia a dia de pessoas comuns, traficantes, dentre outras “figuras” que vivem ou freqüentam uma favela.
O livro tem uma linguagem realista, sem mentiras e sem piadas com a cultura do português falado no Brasil, onde o brasileiro não é descaracterizado. Além de apresentar esse aspecto do nosso cotidiano, o livro é bem direto nas suas descrições, contando de maneira rica tudo que se passa na vida dos personagens.Não se trata de um conto de fadas, onde no final fica tudo bem, e só no final os casais se beijam, trata se da realidade de todos, não só dos “favelados” como também dos playboys das cidades. Ninguém é puro o suficiente, todos já nascem tortos, afinal somos todos humanos, inclusive Rael.
Rael, personagem principal do livro, não aparece fantasiado ou idealizado, Rael aparece como um brasileiro, que pode ser eu, ou você, depende somente de onde nós estamos. Ele tem sonhos, tem paixões, tem fraquezas, faz sexo, fala alto, arrota, xinga! É mais um, dentre muitos que estão na favela do Capão Redondo, na cidade de São Paulo, no Brasil, em favelas ou não.
Tem gente que se assusta ao ler o livro, pelo vocabulário, pelos assuntos abordados, pelas situações vividas, mas vejamos, se você quer historinhas de fantasia, não devia ter passado de Cinderela. Hora vamos! Não existe fada madrinha, mas existe o crack, não existe o príncipe, mas existe o “bandido malvado”, não existe a abobora que vira charrete, mas existe o barraco em que muitos brasileiros vivem, não existe a cinderela, mas existe a puta que muitos pagam. Sendo realista, mesmo, quem quer fantasia, não sai nem de casa.
Agora vem a questão, quando você lê um livro desses, quando você passar por uma favela, ou até um bairro pobre “O que você vê, quando você olha?”
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