terça-feira, 21 de julho de 2009

O novo homem - Drummond.

O homem será feito
em laboratório.
Será tão perfeito
como no antigório.
Rirá como gente,
beberá cerveja
deliciadamente.
Caçará narceja
e bicho do mato.
Jogará no bicho,tirará retrato
com o maior capricho.
Usará bermuda
e gola roulée.
Queimará arrudaindo ao canjerê,
e do não-objetofará escultura.
Será neoconcretose houver censura
.Ganhará dinheiro
e muitos diplomas,
fino cavalheiro
em noventa idiomas.
Chegará a Marte
em seu cavalinho
de ir a toda parte
mesmo sem caminho.
O homem será feito
em laboratório,
muito mais perfeito
do que no antigório.
Dispensa-se amor,
ternura ou desejo.
Seja como flor
(até num bocejo)
salta da retortaum senhor garoto.
Vai abrindo a portacom riso maroto:
"Nove meses, eu?
Nem nove minutos."
Quem já conheceu
melhores produtos?
A dor não preside
sua gestação.
Seu nascer elide
o sonho e a aflição.
Nascerá bonito?
Corpo bem talhado?
Claro: não é mito,
é planificado.
Nele, tudo exato,
medido, bem-posto:
o justo formato,
o standard do rosto.
Duzentos modelos,
todos atraentes.
(Escolher, ao vê-los,
nossos descendentes.)
Quer um sábio? Peça.
Ministro? Encomende.
Uma ficha impressa
a todos atende.
Perdão: acabou-se
a época dos pais.
Quem comia doce
já não come mais.
Não chame de filho
este ser diverso
que pisa o ladrilho
de outro universo.
Sua independência
é total: sem marca
de família, vence
a lei do patriarca.
Liberto da herança
de sangue ou de afeto,
desconhece a aliança
de avô com seu neto.
Pai: macromolécula;
mãe: tubo de ensaio
e, per omnia secula,
livre, papagaio,
sem memória e sexo,
feliz, por que não?
pois rompeu o nexo
da velha Criação,
eis que o homem feito
em laboratório
sem qualquer defeito
como no antigório,
acabou com o Homem.
Bem feito.

Por muito tempo achei que a ausência é falta

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade

domingo, 19 de julho de 2009

Brasil!

Como pensar nesse país, nesse povo, nesse timbre

E não se lembrar dele:

O NOSSO Carnaval.

Afinal Brasileiro é Carnaval!

Mas se tem um povo que nasce com ele correndo nas veias

AH! Esse povo é o baiano.

Pensar em um baiano e não pensar em Carnaval é quase
impossível.

Afinal, Bahia é Carnaval? Ou Carnaval é Bahia?

Um povo, uma festa, O MUNDO.

Esse é o Carnaval de Salvador,

Que nasce do Samba dos negros,

Que cresce nas marchinhas,

Que inova com o carrinho de Dodô e Osmar,

Que na verdade é o TRIO,

Que vive em cada baiano, em cada brasileiro.

Que se conhece pela mistura de blocos,

De Cantores de Axé, de Arrocha, dentre outros.

Desdo Papa de Claudinha,

Aos Filhos de Gandhy, que nasce com os trabalhadores oprimidos de 1949,

Do Ilê Ayê ao Camaleão.

É uma patuscada só, da Barra a Ondina.

Seja branco ou negro, pulando carnaval, só existe um:

O folião.

“Imaginem, que loucura essa mistura.

Alegria, Alegria!

É os estado que chamamos Bahia.

De todos os Santos, Encantos e Axé.

Sagrado e profano o baiano é: CARNAVAL!”

terça-feira, 14 de julho de 2009

A Lista

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você
Quantas mentiras você condenava
Quantas você teve que cometer
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você
Oswaldo Montenegro

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Neverland

Eu não corri de você.
Apenas me refugiei num lugar onde seu cheiro jamais vai alcançar. Aqui, eu não sinto sua falta. Mesmo fazendo esforço, não consigo lembrar dos seus beijos, sorrisos e nem da sua voz. Não sei mais dizer se você tem cicatrizes ou sinais no rosto. Tampouco se foi sua inteligência, doçura ou jeito que me seduziu.
Sua imagem se reduziu a um vulto cinza e embassado.
Onde eu me encontro, você é apenas ilusão. Algo que não existiu de fato, só em pensamento. E hoje, esses pensamentos sequer existem mais.
E, mesmo que um dia eu sinta necessidade de preencher algum vazio e queira lembrar tudo que representa você, vai ser impossível. Pois eu não sei o caminho de volta.
Não perca tempo tentando me achar. Não acho que você seja capaz de encontrar.
Eu fugi para a realidade, meu bem.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Eu te amo não diz tudo.

O cara diz que te ama, então tá! Ele te ama. Assunto encerrado.
Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas.
Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de quilômetros.
A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e palavras.
Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você quando for preciso.
Ser amado é ver que ele(a) lembra de coisas que você contou dois anos atrás, e vê-lo(a) tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ele(a) fica triste quando você está triste, e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d’água.
Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoaem munição na hora da discussão.
Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente inteiro.
Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que tudo pode ser dito e compreendido.
Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo.
Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.
Agora, sente-se e escute: Eu te amo não diz tudo!
Arnaldo Jabor

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Salve, salve a Mafalda!


Impacto - Ferrez

O furacão chegou pra devastar
Casa de elite, carro de luxo
Com o Catrina nada vai sobrar
Você está preparado
São grandes os estragos
Porque Cristo causou impacto.
Avistamentos, óvnis, seres alienígenas.
Ondas, tsunami, massacre promovido aos Incas.
Iraque, Irã, Arábia, Saudita.
Bush no fundo é israelita.
O numero de mortos é incalculável.
O começo do fim inevitável
Word Trade Center é o apelitivo do terror
Que os americanos promovem e Israel massificou
Morro dona Marta, muita cocaína
O dinheiro da cidade, faz morte lá em cima
Capão Redondo terra Jerusalém
As mães choram de dor, e dizem amém
São grandes os estragos
Cristo causou impacto
Classes dirigentes, juventudes alienadas
Evangelizar o povo, dominar a manada
Educação, robalheira, televisão
A rima imprópria do futuro da nação.
O fracasso é a palavra do Brasil
Na bandeira, mate e prostitua o azul anil
Calmaria, choro, rezas, insanos
O feto americano vale dez mil iraquianos
Bombas em Cabul, letras opacas
O rap é vendido e a ideologia é assassinada a facadas
Usado até pra promover cerveja
O fim dos vermes pelo capitalismo assim seja
Preto Ghóez, escritor ativista sul americano
Ideologia brasileira herói de cem mil manos.
Desanimo, desgosto, imoral
Tudo é mentira na nova ordem mundial
São grandes os estragos
Esteja preparado,cristo causou impacto.
Sua fé é negociada com franchising
A indústria da miséria é style
Tudo se compra, tudo se vende
A moralidade em dólar se perde
A letra definitiva da traição
PT, PSDB, muito dinheiro, foda-se a nação.
O caos reinante pra julgar
Família, desbarrancamento pede a Deus ajuda
Enquanto todos olham da beira da piscina
Um país que se mata sempre sem estima
A letra é crua e faz estrago
O escritor é pobre, desgostoso mas nunca fracassado
Retratando o documentário fictício
De um povo novela quase extinto
Índios, negros, mães a chorar
Meninos periféricos com palavrarmas
São grandes os estragos
Esteja preparado
Cristo causou impacto
Tecle na infernet
Esteja conectado
O diabo via-email manda um abraço
Ficamos dependentes, adulados
Como o filho que do pai espera o salário
Como o religioso espera o dizimo
É disso que eu não assino e não repito
Professores sangram giz e lutam
Os políticos gozam enquanto estupram
O mal não vai voltar e nem será saciado
O ser humano é um vírus parasitário
A santidade come criancinhas
O papa nazista com pedra na vesícula
O anus democrata se abre todo dia
A croaca da modelo não precisa
Ouço TV e degusto a sinfonia da hipocrisia
O rap é antídoto para a loucura da maioria
Do gueto ao gueto não esquece
Zumbi, GOG que a invasão comece
Sou prisioneiro de um mundo irreal
Programado para viver um ideal
Cada momento ficará só comigo
O dadaísmo vem de um anfíbio
Poesia concreta é um papel preenchido
O mundo superaquece e volta ao inicio
Sou filho do Clã nordestino
Du gueto me pediu por isso
Literatura Marginal o meu livro
A Cia treinou agentes brasileiros
No barro branco o Dops matou meus parceiros
Crianças superdotadas vão sorrir
Anunciado a sabedoria que não vêem aqui
O que você quer ser e não será
O que quer obter e não comprará
Dispersão, falta de interesse intriga
k.i. mais baixo faz mal a várias vidas
álcool, baseado, bolinhas
com qual alucinógeno você se identifica
uma coisa fique bem colocado
são grandes os estragos
cristo causou impacto.
Aqui ou do outro lado
Viver reto é só um estágio
Sociedades secretas nascem
Religiões e seitas se espalhem
Com qual você se embebedada
Qual você abre as pernas
O sonho da liberdade foi comprada
Pelo juiz que queria mais uma casa na praia
O triste é chegar no fim da estrada
E ver que a vida é um eterno retorno ao grande nada.

Palavrão.

O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de foda-se!" que ela diz. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Liberta-me. "Não quer sair comigo?! Então, foda-se!" "Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! Então, foda-se!" O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição. Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia. "Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a ideia de muita quantidade que "comó caralho"? "Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão matemática. A Via Láctea tem estrelas comó caralho, o Sol é quente comó caralho, o universo é antigo comó caralho, eu gosto de cerveja comó caralho, entendes? No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!". Nem o "Não, não e não!" e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não,nem pensar!" o substituem. O "nem que te fodas!" é irretorquível eliquida o assunto. Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras atividades de maior interesse na tua vida. Aquele filho pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro para ir surfar na praia? Não percas tempo nem paciência. Solta logo um definitivo "Jorginho, presta atenção, filho querido,nem que te fodas!". O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema, e tu fecha olhos e voltas a curtir o CD (...) Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um>> > "Puta que pariu!", ou seu correlativo "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito assim, põe-te outra vez nos eixos. Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça. E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai levar no olho do cu!"? Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega!Vai levar no olho do teu cu!"? Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima. Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios. E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!". Conheces definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere o seu autor num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando estás a conduzir bêbedo, sem documentos do carro, sem carta de condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a mandar-te parar. O que dizes? "Já me fodi!" Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se!

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
-- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adélia Prado.

De Viviane Mosé: